segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Piscina (2017)

Qual a diferença entre uma cafeteira e um robô que faz café? Não que essa história seja sobre isso. Não, senhora. É sobre uma árvore e uma mesa debaixo dela.

Pam não sabia nadar, mas prendeu a respiração, tomou distância, correu e pulou. Era frio como julho, escuro como descer escadas de madrugada. Quando emergiu do outro lado, em uma planície de grama alta sob um céu de brigadeiro, a água era morna, e o vento também. Subiu pela escadinha e desabou. Acordou com o sol no olho e a barriga roncando. Abriu a mochila ensopada, e desenrolou o pão com carne moída enrolado várias vezes em papel filme. O celular tocou. Tirou ele de dentro do tapower. Era um SMS.

Enquanto isso eu e um velho amigo aprendíamos a dirigir na Via Anchieta. Cento e vinte quilômetros por hora. 
-Será que é verdade esse lance de que depois de uma certa velocidade as coisas meio que se dirigem sozinhas?
-Você diz, por causa do computador de bordo, ou pela física mesmo?
-Eu tava pensando na física, mas já que você mencionou, o computador de bordo parece satisfazer a teoria. Falando nisso,
-O que?
-Bordo e bordô são palavras tão parecidas, mas ao mesmo tempo tão diferentes.
-Acho que isso simboliza o nosso relacionamento nesse momento.
-Você acha?
-Não.

A luzinha de combustível piscou.
-Droga

O quão isso fazia do carro inteligente?
Faltava pouco pra represa. 

Ele abriu o porta-luvas, puxou a marreta e se equilibrou no banco. Foi golpeando o vidro o máximo possível. Era pra ter feito isso antes, né. Eu avisei.

-Pronto???
-Pronto!

Soltei meu cinto, ele também. Pisei o mais fundo que podia e cobri o rosto.
À cento e sessenta quilômetros por hora o impacto na água teria sido mortal.

Um hotel de luxo em alguma ex-república soviética no sudeste europeu, abandonado. O vapor passeava pelos corredores faraônicos, pelos salões, galerias, câmaras, até dar a volta e retornar para a sala de banhos. Despertamos numa banheira quentinha.

-Precisamos de mais momentos como esse.
-Definitivamente.

Dois anos depois, passávamos pela Blues Road de moto (obviamente). Paramos em um posto de gasolina, igualzinho ao do clipe do Tears for Fears. Coloquei uma moeda numa máquina e ela me deu uma Diet Coke em troca.

-Qual a diferença...
-Vamos almoçar.

A gordura derretendo na chapa fervente era música pros meus ouvidos e nariz. Os hamburgueres foram servidos dentro de pães de milho.

-Tava pensando em um rpg.
-Certo. Sobre o que?
-Down Under.
-Haha, e como que ia funcionar isso?
-Sei lá cara, é só uma ideia por enquanto.
-Temo que agita isso ai.

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